domingo, 17 de fevereiro de 2008

... O AMANTE INVISÍVEL- parte 5



Nunca conheci uma mulher que confessasse que escreve em porta de banheiros. Mas os banheiros femininos nas escolas, universidades são cheios desses grafitos pornográficos. Fantasias as mais desvairadas. Imagino minha personagem, esta mulher, quarentona, bem sucedida profissionalmente, uma destas colegiais que jamais confessaram tal delito. Escrevendo obscenidades com letra bonita. Começo a me cansar dela. Há quantos contos mesmo, ela aparece? Quem lembra? Não tenho tantos leitores assim. Quero matá-la. Como Angeli matou Rê Bordosa. Ela tem a natureza do escorpião, não vai mudar. Nasceu com quarenta anos, mal resolvida emocional e sexualmente. Peste, parecida comigo demais. O povo está confundindo. Sou marxista ainda, ela é uma professora de política, que não aleija os liberais. Ama-os, Stuart Mill a Tocqueville.
Meu belo amigo, homossexual assumidíssimo e feliz, mestre em antropologia, impede minha sanha assassina. Diz-me que ela produz. Ora, eu é que preciso produzir academicamente, tenho um artigo científico, uma monografia e um texto militante para entregar até finais de março. Deixe-me usar do meu poder demiurgo de autora e matá-la, sem culpas. Sou Deus. Será tão fácil, posso matá-la numa dessas suas noites insones de desejo. Por suicídio, ela imaginará que o tal amante invisível virá vê-la, preparará não taças de serotonina, mas de vinho com veneno de rato. O diabo, é que pode fracassar como alguns amigos meus, que já tentaram mais de uma vez, e voltar a me atormentar, por conta da minha personalidade indecisa. Mas posso matá-la também surrealista mente, como numa boa história de realismo fantástico. Um desses deuses fantásticos, com vários falos, pode finalmente dar fim a sua ninfomania masturbatória, penetrando-lhe a alma, que será banida para sempre. Por só pensar naquilo, ou adormecerá como uma bela adormecida coroa, e não um príncipe, mas um desses poetas de blogs, cheio de tesão, maravilhosos homens infiéis, acordá-la com uma bela trepada de verdade.
Bem, não a matarei ainda, mas todos vocês leitores, são testemunhas da premeditação de um crime. Qualquer hora o cometerei.

Noite de final de semana. Chegou da balada, que se resumiu a um papo num espaço cult, onde conhecia a todos. Um rapazinho lhe deixou excitada. Mas exigente como era, imaginou que tal rapaz, jamais teria ouvido falar dos clássicos da política. Também não teria dinheiro, experiência alguma de vida, nem seria ainda um bom amante. A vida não lhe dera nada dessas coisas ainda. Típico amante que nada acrescenta. Dilema das quarentonas solteiras, assim são os homens mais jovens e os da sua idade, veteranos em fazer mulheres sofrerem. Geralmente casados, podem até ser cultos, mas querem apenas lazer, sair da rotina sexual da monogamia, que impõe o casamento. Assim, adormeceu nua, como sempre. Ouvindo Are you certain de Sarah Vaughan, e traduzia uma frase: quando eu sei que você vem...

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RÊ BORDOSA

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