sexta-feira, 26 de março de 2010

XOXOTA DE OURO EM FORMA DE BORBOLETA CRAVEJADA DE BRILHANTES



Estava bem bêbada, era uma mulher que sabia beber. Dançava então e sorria muito com seus curtos e coloridos cabelos, de acordo com seu humor os pintava, estavam vermelhos naquela noite.Tentava manter a alegria. Aos quarenta e nove anos, sua alma alegre e bem resolvida, estava inquieta. O espelho a incomodava. Não havia plástica para a alma. Então procurava não se incomodar com as mudanças do corpo.
Maria da Conceição olhou-se de ressaca na manhã seguinte. O espelho malicioso dizia que havia mulheres mais jovens. Como na puberdade pegou um pequeno espelho e viu refletido nele sua vagina, sua vulva, seus pelos. Gostava dos pelos. Mesmo que suas amigas trouxessem aquela parte em v constantemente lisa, depilada, asséptica. Alguns homens preferiam, atrizes de filmes pornográficos usam assim. Mas ela não, não pensava em agradar os homens. Achava uma vagina peluda de uma feminilidade ancestral. Na juventude tinha uma linda lasca em v! Alguma coisa havia mudado entre suas pernas, alguns pelos estavam brancos e crespos. Naquela região não havia como colorí-los. A esteticista rendia-se a necessidade de retirá-los a cera quente. Manteria algum traço de juventude que o tempo devorava rapidamente. Pensou rapidamente em homem, homens que desejava e em sua autoestima abalada. Quando? Em que ano perdeu sua cintura fina? Suas belas costas criaram vincos? Lembrou do poema de Cecilia Meireles. E olhou no espelho sua face. Ainda gostava imensamente dela, de seus olhos café, lábios grossos de negro e nariz indefinido, por ser bastante mestiça. Uma negra de pele clara.
Conceição aceitou o convite para sair com um homem mais jovem. Desconversou deixou a cama para outro dia. Amanhã olharia novamente com o espelho entre as pernas. Surrealistamente imaginou um implante de vagina com formato de borboleta, de ouro, cravejada de brilhantes, se fosse uma primeira dama talvez, trabalhadora autônoma, contentava-se com outro bichinho sexy, poderia ser uma joaninha, com paetês e pluminhas cor de rosa, cheirando mesmo a vagina, que é cheiro bom. Novamente se assustava, lera que aos cinquenta anos gradativamente a mulher perde o cheiro natural da vagina, o que não mais atrairia o homem. Medo! Bebeu muito outra vez, choveu, voltou para casa antes das duas da manhã. Dormiu, sonhou com vaginas voando e flatulentas.

RÊ BORDOSA

RÊ BORDOSA
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