domingo, 28 de dezembro de 2008

CARTAS


Caríssima Frida,
Boa amiga que és, precisa saber de mim. Calma, tenho estado bem serena nos últimos cinco dias. Parece que finalmente incorporei meu principal papel, onde há vários anos sou protagonista, a de jabuti escondidinha. Paz, quase felicidade (se não fossem ainda algumas incômodas lembranças), dentro do meu confortável casco. Foi bom sair dele após tantos anos. Foi como daquelas vezes que os amigos ficam me cobrando ou estimulando para fazer coisas e as vezes me dou bem, outras vezes me ferro toda. Sem novidades, sabemos nós duas.
Não tenho metade de teu talento e ousadia, querida! Claro que não sou nenhuma coitadinha, prefiro manter a auto-piedade de lado. Tentar encontrar em situações difícies que passo minha contribuição para o desfecho dos fatos. Ho, claro sempre me deparo com meu pavio curto. Mas juro que não há como encompridá-lo, rsrs. Penso que não já pegou fogo! Tenho aprendido algo sobre julgar meu comportamento positivo ou negativo, sem culpas, apenas para compreender minhas relações com os outros, lendo Dalai Lama, budismo para leigos, interpretado por terapeutas. Excelente fórmula. Diria que é o que há de melhor em literatura de auto-ajuda.
Como vai Diego? Sua coluna curou. Percebe-se. Estás bem bonita neste vermelho.
Abraço bem apertado, desses cheios de saudades mesmo, "miga".
Fica bem

Macondo, final de 2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

LUTO VERMELHO: briguei, separei, fui ao cinema. Não entendi o filme...


Só quero esquecer. Dormir e amanhã lembrar menos."Colar" a casca na ferida. Não lembrar nem de bem, nem de mal. Perceber tudo como um sonho antigo, desfigurado. Miseravelmente sem valor, moeda velha.


[...] A nossa (separação) se colocaria da seguinte forma: o que acontece com os dinamismos psíquicos e as forças defensivas, quando a separação forçada e "súbita" dos amantes se efetua mediante um "esforço de vontade" e por "razões objetivas", no momento máximo e talvez aparentemente único das relações amorosas? A separação lenta que se segue ao "distanciamento mútuo" é um longo processo, comparável a uma doença crônica e caracterizado por uma fricção mútua que encontraria sua expressão social no divórcio. Em nosso caso, pelo contrário, trata-se mais de um doloroso processo abortivo no qual o verdadeiro "afastamento recíproco" e o esquecimento daí decorrente ocorrem somente depois que a desesperada separação se concretiza.


[...] " a separação é pior do que a morte porque significa, em vida, uma capitulação diante da morte." Quando a repressão não é muito profunda, os dois sabem que viverão um sofrimento horrível; mas também um sofrimento breve, pois sabem que cada qual irá esquecer o outro. Trata-se da presença da morte na e da consciência. Há uma sentença de morte recíproca. Na medida que a condenação se cumpre na própria consciência do outro, a sentença de morte do outro significa decretar a morte de si próprio. O outro morre em vida, mas morre dentro de mim.

... A sentença foi igualmente pronunciada em relação a mim; eu também morro na consciência do outro - e essa sensação será tanto mais intensa quanto mais possessivo for o amante que pede: "Não me esqueça, por favor!" Apesar de que ainda vivo em meu corpo, sou um cadáver no outro, naquele ser que me amou e a quem amei. Os dois seres não perderão a memória, é verdade;mas a "recordação" que ainda persiste tornou-se uma pequena múmia. O esquecimento é a primeira grande defesa contra a própria morte. Mas significa também um homicídio em nome da vida e o suicídio da consciência.

A Separação dos Amantes: Uma fenomenologia da morte

Caruso, Igor A. Ed. Cortez, 5 ed. 1989


As amigas solidárias concordaram comigo. Feia, a outra era feia. Conversei com ela, as amigas temeram pela sua aparente fragilidade. Mas se ele não estaria peocupado, porque eu, velha feminista corporativista, mas cansada e com vontade de fazer sexo... me preocuparia naquele momento. Fiquei pertinho da humilhação viva e não senti que aquela criatura tivesse sangue de animal quente. Perdi para o bicho do Kafka. O terapeuta me olha preocupadíssimo, com meus desejos assassinos. Lembre-se és devota de Santa Teresinha, adora distribuir rosas. Depois, bem gay ( é gay meu terapeuta), o amor é seu, meu bem. Não é dele. O perdão é seu, não é dele. Esqueça, esse ressentimento resseca a pele, faz mal a alma. Traz mal vibrações, diz a orientadora espírita, embaça sua intuíção para o trabalho no bem.

Sinto-me mais tranquila. O cadáver ainda não entrou em decomposição. Só aquele cheiro de flores de velório ainda não me saiu das narinas. Mas se pudesse apagar a memória, trocar de chips, mandar formatar novamente. Parar de sofrer, tão miseravelmente. É miserável nutrir sentimentos por certas pessoas. Porque é somente o que são e o que carregam do mundo e o que espalham: suas próprias misérias. Alguém que acredita em vida, beleza, felicidade, paz, harmonia mesmo não precisa passar por quaisquer coisa causada por estas pessoas. Elas trazem a dor em seus atos, pensamentos, palavras. Não dão chance a vida.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

VERDADES QUE SE DESCOBRE TARDE DEMAIS: NO SURTO!


Só se pode viver perto do outro e conhecer outra pessoa, sem perigo de ódio se a gente tem amor. Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura.(Guimarães Rosa)

sábado, 20 de dezembro de 2008

A CALCINHA LILÁS VIRGEM (2)


"Procura-se um amor, essencialmente deve apresentar as seguintes características: não pode ser de mentira do tipo "ficar", procura-se um amor de verdade daqueles que voltam todos os dias, daqueles que são lembrados e que se lembram, daqueles que às vezes mesmo longe se fazem perto... Daqueles que vem pra fazer historia e dividir memórias!Procura-se um amor amigo e compreensivo, um amor solidário e presente... Mas veja bem!!! Não se aceita aquele amor que já vem doente, egoísta, desconfiado e ciumento... Nada daquilo de apagar e nem lembrar o passado... procura-se um amor que se apresente de peito aberto, bem trajado e humorado, pronto para o que der e vier, pronto pra ser correspondido, pronto para ouvir e ser ouvido.Procura-se um amor carinhoso, mas honesto e justo também, um amor que saiba falar e saiba calar, um amor que saiba dar "chacoalhões" e incentivos, um amor que caminhe junto do meu, que abra os olhos para o perigo e que navegue junto nas fantasias, que saiba dividir as tristezas, compartilhar as alegrias, que siga por toda a vida...Procura-se um amor valente, capaz de lutar na adversidade, um amor que não se entregue nunca, que saiba se impor, mas que seja humilde o suficiente para reconhecer seus erros e excessos, livre e disposto para aprender por todo o caminho...Enfim, procura-se um amor de sonhos disposto a ser real, que "dure o tempo suficiente para se tornar inesquecível", que seja intenso e eterno, que seja um amor de verdade!"



QUARENTONAS SOLTEIRAS PROCURAM...

Esse texto me foi enviado como mensagem por uma amiga de cinquenta. Lembrei da adolescência, numa época sem blogs, se compartilhava em cadernos de confidências. Mulheres e homens se buscando. Ontem uma amiga na mesa de bar me falava desse modelo de companheiro que ela ansiava, jovem avó, independente financeiramente, queria alguém não para bancá-la, mas para dividir um cinema, um bom papo, um show, uma pequena viagem. Um oásis nesse deserto de solidão dos filhos crescidos, de sabedoria acumulada através dos anos. Queremos o homem aranha. Sair por aí, penduradas em suas teias.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

A CALCINHA LILÁS VIRGEM

Meu coração, minha vulva, minha alma, meu braços roxos por abraços, por carícias., mas sem carências... É preciso reconstruir o espaço do amor novamente, as águas levaram em Santa Catarina. Já não sonho mais com aquele amor. Sua pele invisível agora é impossível de ser imaginada. Convenções de raça e classe às vezes são intransponíveis. Pena. Mas às vezes também, perder é ganhar. Acho que compreendo essa sentença agora. Que nossas chuvas do sertão me traga um novo amor. Gosto de está apaixonada. Nada falta a meus amados. Amanhã vou para um concerto da nona de Bethoven, fiz maquiagem ontem, fiquei bonita. Afinei sobrancelha e alonguei, quero ficar parecida com Angela Davis. Descobri uma nova página na net, Cultura e Humanismo, onde estou me divertindo e treinando os neurônios, relembrando os teóricos da escola de Frankfurt. Pós-modernos, me torcerá o nariz, Patrícia Andrade. Não tenho mais patrulha ideológica. Mas não desisto de escrever o "ensaio", Nietzche morreu: Graças a Deus. Comprei mais três livros dele. Uma hora nós nos acertamos. O ateismo ressentido de nietzcheano e seus padrões de estética burgueses ou o ateismo sartreano e a existência para o outro, no engajamento?Seus adeptos me jogarão bosta na Geni. Humor oscilante, deprimo e fico feliz.Aproveito os momentos de felicidade e corro o máximo da depressão com o estoque de pensamentos positivos, coloridos, auto-estima. Lembro do final de O Vento Levou e o ativismo social, velho e bom sangue nas minhas veias que me salva sempre. Será que aquele professor olhou para mim? Investir, quem sabe...

sábado, 13 de dezembro de 2008


Ela é HC Ela era loira Pintou o cabelo pra ser HC Pensou em ser skatista Mais com a perna quebrada Skatista não pode ser Ela tem manias esquisitas As vezes dorme seminua Nunca conclui nada Nunca continua Ela ama usar cueca Odeia a palavra muleca Ela já tentou se matar Ela tentou parar de te amar Ela sonha em conhecer o Rio Grande do Sul tchê! Ela geralmente não te escuta O que? Ela sonha em todas as noites com você Não é exagero Pergunte pra ver Ela é psicótica, depressiva e esquisofrenica Ela sempre sonha que é mãe de sí propria quando era pequena Ela quer ser a mãe de seus filhos se você deixar Ela iria a lua te buscar Ela queria ser da sua idade Mais é dois anos mais velha que você Ela não quer ser pedófila E nem ser presa na primeira vez que te ver Ela pretende fazer faculdade um dia Morar com alguma amiga Ela sonha em te ligar E poder falar tudo o que sente Então passe seu numero E fale com seu jeito meigo:-Entende. Ela sonha que você busque eladaqui Você mora tão longe Ela te tem dentro de sí Ela te ama mais que pode Ela te ama até os ossos. by:julinha! ...Que ama um branquinho do cabelo preto mas ele não tá nem ai pra ela...Ela já o espera há três anos que ele a busque no interior,há uns três anos...mais nada!

Perfil de loucos que visitam o meu orkut. Achei massa esse, não resisti. Compartilhando nessa minha ilha particular, onde posso me masturbar sociologicamente, antropologicamente, politicamente. Arre!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008


Há dias que morremos um pouquinho, sem necessidade de suicídio...

PARA O EX DE SUSANA E NOSSO EX QUE MORREU DE AMOR POR OUTRA


Para meu coração basta teu peito
para tua liberdade bastam minhas asas.
Desde minha boca chegará até o céu
o que estava dormindo sobre tua alma.

E em ti a ilusão de cada dia.
Chegas como o sereno às corolas.
Escavas o horizonte com tua ausência
Eternamente em fuga como a onda.

Eu disse que cantavas no vento
como os pinheiros e como os hastes.
Como eles és alta e taciturna.
e intristeces prontamente, como uma viagem.

Acolhedora como um velho caminho.
Te povoa ecos e vozes nostálgicas.
eu despertei e as vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam em tua alma.

Pablo Neruda

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

HOMENS MATAM, APAGAM SCRÉP E 1% TALVEZ MANDE FLORES




Estamos a quarenta anos de Revolução Sexual no mundo ocidental, contando como auge, o ano de 1968. O movimento feminista e homossexual tiveram considerável contribuição numa mudança de costumes, hábitos sexuais, tolerância a "invenção da diversidade sexual". Mas se nós mulheres passamos setenta anos de luta para conseguirmos votar, queimamos sutians em praças para emancipação total, conquista do mercado de trabalho, direito a creches, lazer, prazer e bem-estar. Infelizmente perdemos uma batalha, que não deveria ser uma luta com números de morte de uma guerra. Morremos, apesar da Lei Maria da Penha, esfaqueadas, baleadas, nossas filhas estupradas. Violência doméstica cotidiana e ainda não punida como deveria. Quem são os homens agressores? E por que nos batem? É preciso ter medo desse amor que mata. E não ter medo de denunciar. Será preciso desencadearmos outro feminismo que ensinará usar também um porrete contra esses covardes? Ou educar nossos filhos para serem homens menos violentos? Que geração acabará a violência contra a mulher?
NÃO ME BATA OU TAMBÉM QUEBRO SUA CARA, CARA!

( Até 10 de novembro de 2008 foram registrados em Teresina 1.352 casos, incluindo vários homicídios com requintes de crueldade. )

domingo, 16 de novembro de 2008

HOJE É FERIADO: DIA DA SAUDADE


Talvez hoje será mais um domingo perdido em crise de amor não correspondido. Trabalho a fazer, filho para cuidar. Domingo de sol. Mas parece que está escuro. Dói, uma dor invisível do pé a cabeça. Susana mandou o marido infiel embora, a amante ligou para casa dela. "O amor é só uma licença poética para o sexo", fala de um personagem canastrão de um filme chileno. Estou delirando! Escrevendo sem nexo. Vou ouvir meus mantras dominicais, reler a arte da felicidade e rezar um pouco. Quem sabe melhore. Ontem ouvi umas músicas antigas do Raul Seixas... [...] "Pedro, aonde você vai também vou. Não me critiques como sou. Cada um de nós é um universo. Mas tudo acaba onde começou."

terça-feira, 11 de novembro de 2008


"Como dava beijos lentos, duravam-lhe mais os amores"
Ramón Gómez de la Serna

Onde estás? Fazendo o quê? Pra que queres liberdade irrestrita? Então o moço olhou para a moça e de sopetão, recitou aquele poema do Manuel Bandeira, aquele que o namorado diz que a namorada parece uma louca. A moça gostaria de ouvir outro poema, mais doce. Não ouviu, o tal namorado não estava para poesia. Era um namorado ansioso e angustiado. Ria-se as vezes. Abraçava-a e nesse momento era extremanente gentil. Terminado o amor, dormia, não sem antes beijá-la, beijá-la muito e morder suavemente sua orelha esquerda. Ele sempre mordia a orelha esquerda. Adormecia com sua perna masculina sobre ela. A moça demorava dormir com a proximidade do amado. Não conseguia, era muito forte o amor tardio, o amor que se instala nas mulheres depois do sexo, misto de euforia e ardor, e uma moleza sensual por todo o corpo , o metabolismo pedindo sono, e uma paz inquieta que não deixa.Bem-vinda dor entre as pernas.
O dia amanheceu feliz. O sol estava vermelho como fim de tarde.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

FELICIDADE


Já não penso em tristezas. O vento que refresca minha terra tão quente, parece entender minha serenidade e querer cantar por mim. Venta por ventar, não anuncia chuva pois a noite está estrelada, apesar da lua não aparecer.
Tenho desejo, como tenho sangue nas veias, ambos são necessários a vida... desejos sem pressa que se cumpram, espero pacientemente como um carrapato. Descobri que os jabutis não são tão calmos como o senso comum acha, são bichos até muito agitados, apressados em esconder-se dentro daquele casco. Sangue, carrapato: que nojo, mulher!
É, a vida continua... com lutas, conquistas, perdas, ganhos. As conquistas e os ganhos são conquistas pessoais, minhas, sem apoio de ninguém. As perdas estão sempre relacionadas com sua interação com os outros.
Meu corpo redondo quarentão está em paz, a cabeça sem culpas. Comprei maquiagem. Nunca usei nada além de um batom. Ficou bom. Cortei o cabelo, ainda acho estranho no espelho. Também arrumei algumas gavetas internas, separei bem algumas emoções. Guardei algumas para a primavera do ano que vem. Suspirei, voltei ao trabalho. Sinto-me completa, plena.

sábado, 1 de novembro de 2008

CANÇÃO





No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto

Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.

E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.


Cecília Meireles

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O BEIJO DO HOMEM ARANHA ( 3 )


O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceita desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.
Fernando Pessoa


Quem ama não é livre. E não é uma escravidão doce, não é romântica! Antes é desesperadora submissão à emoção. A razão se torna mera convenção. Antes ser humilhado do que não ser amado,
é mesmo o vencido servindo ao vencedor, como diz Camões. A dor ou a felicidade. Uma felicidade fugaz seguida de dor eterna, porque parece que não vai passar nunca mais.

sábado, 25 de outubro de 2008

O BEIJO DO HOMEM ARANHA ( 2 )


Gostaria de ser a Mary Jane, namorada do Homem Aranha.
Fantasia, ué!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

DESAFETO


Gostaria que minha tristeza fosse embora... como pássaro que foge da gaiola. Por que não vai?

DOÍDA DEMAIS!



Soneto do Orfeu

São demais os perigos dessa vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu, como esquecida

E se ao luar, que atua desvairado
Vem unir-se uma música qualquer
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher

Uma mulher que é feita de música
Luar e sentimento, e que a vida
Não quer, de tão perfeita

Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento,
Tão cheia de pudor que vive nua.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

EXALTAÇÃO





Viver!...Beber o vento e o sol!...Erguer
Ao Céu os corações a palpitar!
Deus fez os nossos braços pra prender,
E a boca fez-se sangue pra beijar!
A chama, sempre rubra, ao alto, a arder!...
Asas sempre perdidas a pairar,
Mais alto para as estrelas desprender!...
A glória!...A fama!...O orgulho de criar!...
Da vida tenho o mel e tenho os travos
No lago dos meus olhos de violetas,
Nos meus beijos extáticos, pagãos!..
Trago na boca o coração dos cravos!
Boêmios, vagabundos, e poetas:
__Como eu sou vossa Irmã, ó meus Irmãos!...

Florbela Espanca

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O MITO DO AMOR ROMÂNTICO


'O amor romântico está com os dias contados.' É o que prevê Flávio Gikovate no livro 'Uma História do Amor... com Final Feliz' (MG Editores) . Aqui, o psicoterapeuta explica por que os relacionamentos duradouros são os que unem dois inteiros e não duas metades.Mitos como o de que os opostos se atraem e que relações entre casais só dão certo quando cada um abre mão da individualidade estão caindo por terra, segundo Flávio Gikovate. Para o psicoterapeuta, o avanço da sociedade está ocasionando verdadeiras mutações nos relacionamentos. 'A idéia de fusão funcionava até pouco tempo atrás porque eram duas carnes com um só cérebro: o do homem. A mulher, oficialmente, não pensava. Com a independência econômica e sexual, ela chegou também à intelectual. As relações afetivas estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor.' Para entender o que passa na cabeça dos casais atualmente e fazer uma projeção quanto ao futuro, Marie Claire Online conversou com o especialista. Marie Claire Online - Até que ponto a relação com a mãe, durante a infância, influencia os relacionamentos amorosos da vida adulta?Dr. Flávio Gikovate - O amor é um sentimento que temos pela pessoa cuja presença provoca em nós a sensação de paz e aconchego que perdemos ao nascer, quando sofremos uma ruptura que gera desamparo. Essa sensação só se atenua com a reaproximação física da mãe. Assim, ela é o nosso primeiro objeto de amor. Quando crescemos e nos tornamos independentes, queremos nos entreter com outras coisas, mas, vez por outra, nos sentimos inseguros e corremos atrás do aconchego físico materno. A impressão de ser uma 'metade', portanto, nos acompanha desde o nascimento, porque nascemos fundidos a outro ser - a mãe. O problema é que essa sensação de que falta alguma coisa não pode ser preenchida por outra pessoa.



MCO - O ser humano tem a necessidade de encontrar o 'aconchego', que o senhor define como prazer negativo - já que supre a sensação de desamparo. Nesse sentido, é mesmo 'impossível ser feliz sozinho'?FG - Temos de entender que não somos metade. Ninguém precisa de outra parte para se completar. Essa situação de incompletude tem de ser resolvida internamente, sem repassar ao outro a responsabilidade por esse vazio. Há muitos solteiros felizes. A maioria leva uma vida serena e sem conflitos. Quando sentem uma sensação de desamparo - aquele 'vazio no estômago' por estarem sozinhos -, resolvem a questão sem ajuda. Mantêm-se ocupados, cultivam bons amigos, lêem um bom livro, vão ao cinema. Com um pouco de paciência e treino, driblam a solidão e se dedicam às tarefas que mais gostam. Os solteiros que não estão bem são, geralmente, os que ainda sonham com um amor romântico. Ainda possuem a idéia de que uma pessoa precisa de outra para se completar. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afetivas são parecidas com 'o ficar sozinho', ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Viver sozinho é um bom estágio para dar início a uma relação madura. Pode ser que a pessoa goste tanto dessa condição que decida não investir mais em relacionamentos.



MCO - Por que tantas pessoas insistem em continuar a viver relacionamentos arruinados? FG - Provavelmente pela falta de compreensão sobre o que de fato representa viver em comunhão. E, definitivamente, não é fazendo concessões e sufocando a individualidade que as relações vão se sustentar. A maioria dos divórcios é de iniciativa da mulher, porque casamentos de má qualidade são mais desgastantes para ela, que é quem culturalmente faz mais concessões no relacionamento. Em geral, são relações entre opostos: um egoísta e outro generoso. E há tanto homens como mulheres dos dois tipos. Nas separações por iniciativa feminina, geralmente a mulher generosa ficou cansada do marido folgado. A egoísta não se separa, pois se beneficia da situação. Os maridos generosos não se separam porque não são bons em ficar sozinhos e perdem mais com a separação, como os filhos e a casa. MCO - Por que essas pessoas acabam se envolvendo com o mesmo perfil do parceiro anterior? Por exemplo, um parceiro violento ou irresponsável. FG - Porque a idéia de fusão, embutida no amor romântico, ainda prevalece na escolha do parceiro. Para se sentir completa, a pessoa busca um oposto. Muitos casamentos entre opostos, com a idéia de fusão, ainda vão acontecer antes que as pessoas se dêem conta de que não dá mais para insistir nesse tipo de relacionamento. A necessidade de independência vem desde cedo no ser humano. Só que mudaram as prioridades. Antes, o amor ganhava da individualidade porque não havia o que fazer com ela. Não tinha televisão, meio de transporte. Hoje temos 100 canais de TV que facilitam os momentos de lazer e o Ipod para ouvir música sozinho. Ou seja, a individualidade é um bem precioso, que ninguém quer (nem deve) abrir mão.



MCO - Se relacionar com alguém com o perfil muito diferente do seu é o principal ponto problemático nos relacionamentos atualmente? FG - Sim, o maior erro é escolher parceiros que são o oposto de nós. Generosas se ligam a egoístas; extrovertidos se ligam a recatadas; boêmios se ligam a pessoas de vida diurna e assim por diante. Em geral, pessoas com 'boa dose de auto-estima' costumam ser egoístas. E pessoas com baixa auto-estima tendem a ser generosas. As duas posturas derivam da imaturidade emocional, portanto não são adequadas. O generoso não é nenhum bonzinho. Ele dá mais do que recebe, mas cobra por isso. O egoísta não tolera frustrações e contrariedades. Se o egoísta tenta dominar pela intimidação, o generoso tenta dominar pela competência. Isso forma uma trama diabólica que se perpetua ao longo das histórias de gerações. A sociedade criou o individualismo para acabar com a dualidade egoísmo-generosidade. Esse novo contexto vai formar o justo, que é o indivíduo que dá e recebe na mesma medida. Ele troca, não dá com o intuito de dominar, nem recebe de uma forma parasítica. MCO - No livro o senhor menciona que o velho conceito de que os opostos se atraem está mudando. Como se dá essa transformação na sociedade? FG - A passagem de uma relação convencional para uma relação de mais amor, que eu defendo, é lenta e progressiva. Tem um momento que dói. Um dos dois vai reclamar primeiro do sufoco. O outro vai ficar ofendido, mas vai aproveitar para afrouxar o vínculo também. Momentaneamente há uma crise. Mas casais que se gostam mesmo, que se respeitam, que têm afinidade, passam por isso e reconstituem a aliança em termos mais individualizados. Assim, entendem que, se um não gosta de ópera, não tem por que ir com o outro e ficar dormindo durante a apresentação. Se a mulher não gosta de futebol, não tem por que ficar ao lado do marido entediada.


MCO - Muito tem se falado em casais que decidiram, depois de muito tempo debaixo do mesmo teto, morar sozinhos para manter a saúde da relação. É um sinal de que há um outro tipo de relacionamento surgindo? FG - Essa é mais uma das mudanças que podem acontecer nos novos relacionamentos. Se for uma decisão madura, não há problemas. Temos de tirar vantagens, em vez de lamentar. Os pontos positivos são muitos: avanço moral, avanço da capacidade de viver sozinho, de aprender a resolver a situação de incompletude e não imaginar que isso vai se resolver por meio do outro. O que mais devemos evitar é a postura conservadora de querer fazer prevalecer atitudes que não estão mais em concordância com a realidade - e que foi modificada por força da própria ação humana. MCO - Por que o amor romântico - que julga serem necessárias duas pessoas, ou seja, um casal, para que se chegue à felicidade plena - irá acabar? Como será esse novo tipo de relacionamento? FG - As relações afetivas estão passando por profundas transformações e revolucionando o conceito de amor. O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar junto, e não mais uma dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar. Quando há qualidade, as chances de o relacionamento durar são bem maiores. O amor romântico - ciumento, opressivo e sufocante - não tem mais chances de dar certo porque é incompatível com o desejo crescente do individualismo. Aos poucos, as pessoas estão reconhecendo quão imaturo e desgastante é o amor tradicional que conhecemos. No mundo moderno, em que há muita atividade individual e interesses individuais, o amor como remédio não funciona porque ele é possessivo e exclui a liberdade. Isso ninguém tem suportado mais. Esse amor vai ter de ser substituído por outra qualidade de relação - algo mais parecido com a amizade, porque é aproximação de duas unidades, não a fusão de duas metades.* * *



O problema é ... amor existe, gente! Uma emoção independente de nossa vontade. Tirei esse texto de uma comunidade do orkut, O mito do amor romântico, não me considero romântica e não acredito que o contrário desse amor romântico seja o relacionamentos casuais, o sexo sem compromisso, a "velha amizade colorida" ou amizade erótica como diz Kundera. Quero um par, e não estou ligando para os rótulos, já mandei flores importadas e muitos poemas da Florbela Espanca. E amor é para deixar a gente bem, feliz, disposto, sorridente, endorfina renovada impulsionando novos significados para vida. Ser infeliz todo dia num relacionamento com alguém que ama "mal" o mundo todo e é infeliz porque sofre, porque não se complementa. É melhor está sozinha. Fazer um novo penteado, curtir um "luto de vermelho", unhas e decotes generosos, sorrisos, suspirar... aberta temporada de caça!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

O BEIJO DO HOMEM ARANHA!


A solidão é amiga pessoal do delírio. Ficam lá loucos e velhos falando sozinhos. Loucos por não terem a posse da própria subjetividade. Velhos por não terem mais carnes jovens. No caso das mulheres quilos a mais, afastam-nas dos padrões "Brastemp". Mas imagina se a vida não deixasse marcas físicas. Deixa sim, barriga, cabelo branco... é preciso está bem de cabeça. Cuidar do corpo por prazer, para agradar principalmente você. As mulheres têm uma capacidade maravilhosa de reconstituir-se emocionalmente, como membros mutilados de alguns répteis. Os quilômetros são longos na caminhada. Encontra-se companhia: Senhor grisalho, sorridente, fala mansa, usa boné, será calvo?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

PORNOGRÁFICO OU ERÓTICO?


Qual o limite entre a arte e a pornografia, dilema do fotógrafo dessa foto. Eu particulamente me preocupo com o texto erótico, que excite, provoque, mas não agrida, não seja bizarro. Será possível? Fazer literatura erótica, que fale da alma humana, do desejo, dos desejos, das taras num texto poemaerótico?
Outro dia vi uma capa de revista com a filha da Gretchen e outra moça. Achei vulgar. Tenho filha, desisti da carreira de Bukowski de saias.
Bem, de todo, procurarei uma fórmula de minha eroticidade ser literatura.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

AMIGA


Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
Como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos
Os beijos que sonhei pra minha boca!...

Florbela Espanca (Livro de Mágoas)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

NEGÓCIO DA CHINA!


Junto com outras crianças especiais levei minha filha ao Circo de Pequin. Ganhamos as entradas. É um espetáculo de superação humana o que os vários artistas fazem com o corpo. A música oriental excepcional e um painel ao fundo que lembra a fotografia do filme Ghengis Khan, a Mongólia.
Mas prestei atenção que no intervalo de vinte minutos, das duas horas de espetáculo. Alguns artistas não descansam, saem vendendo suvenirs, comprei essa foto por cinco reais, na mão de uma chinesinha simpática. Só por isso, porque outras não eram tanto.
Peguntei rapidamente ao empresário que os trouxe ao Piauí a questão de salário desses artistas, ele disse que era uma espécie de programa de governo e que não sabia nada sobre salários, então imaginei que aqueles artistas também podem ser explorados como a maioria dos trabalhadores chineses, comprei mais um botton por cinco reais, a chinesinha tinha cara de pobre. Ou foi só impressão minha.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

CABALÍSTICO 11 DE SETEMBRO


O locutor anuncia a música Nova York, Nova York de Sinatra e oferece aos chilenos. Segundo ele, 11 setembro tem outro significado para os chilenos, a derrubada do governo de Allende por Pinochet, inaugurando uma ditadura das mais cruéis da América Latina, que durou dezessete anos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

TODA NUDEZ NEGRA SERÁ DESEJADA!

Nina Simone, além da beleza da voz...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

MERDA


Só em 1980 soube-se da morte do filho de Stalin, Iakov, por um artigo publicado em Sunday Times. Prisioneiro de guerra na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, ele ficou num campo de concentração junto com oficiais ingleses. Tinham latrinas comuns. O filho de Stalin sempre as deixava sujas. Os ingleses não gostavam de ver as latrinas sujas de merda, mesmo que fosse a merda do filho do homem mais poderoso do universo. Chamaram-lhe a atenção. Ficou aborrecido. Repetiram as reclamações e o obrigaram a limpar as latrinas. Ele se zangou, vociferou, brigou. Finalmente pediu uma audiência ao comandante do campo. Queria que ele fosse o árbitro da discussão. Mas o alemão estava muito convencido de sua importância para discutir a repeito de merda. O filho de Stalin não pôde suportar a humilhação. Bradando aos céus atrozes palavrões russos, jogou-se contra a cerca de alta-tensão que cercava o campo. Deixou-se cair sobre os fios. Seu corpo, que nunca mais sujaria as latrinas britânicas, ficou ali dependurado.

... O filho de Stalin perdeu a vida por merda. Mas morrer por merda não é morrer de modo absurdo. Os alemães que sacrificaram a vida para ampliar seu império em direção ao leste, os russos que morreram para que o poder de seu país se estendesse em direção ao oeste, esses sim, morreram por uma tolice, e a morte deles é destituída de sentido, de qualquer valor geral. Em contrapartida, a morte do filho de Stalin foi a morte metafísica em em meio à tolice universal que é a guerra.
do mestre
Milan Kundera
( a foto retrata o sofrimento de civis na guerra entre Geórgia e Rússia)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

COMO O FEL COME O MEL







Ou ama-me com ternura, pôrra! Meu coração encheu de agonia, cabeça pertubada... que poder de irritar ou porque alguns homens se irritam por tão pouco, porque temos razão. Tenho medo dessa masculinidade passional, forjada a séculos de opressão machista. A lei Maria da Penha fez aniversário nesse agosto de 2008, um ano, numa quinzena que fiquei bastante abalada com o assassinato da inglesinha de dezessete anos, por um suposto namorado de vinte e dois. A menina foi penicada, não lembro de ler ou ouvir na televisão, o que ele usou, facas, machados? Tantas mortes e fim de sonhos, marcas definitivas na alma como tatuagens infernais.


Um belo homem com cheiro de África, um masai, um guerreiro queniano, altivo, colorido (havia uma faixa vermelha na cabeça), e roupas pretas, no meio da multidão, da música, dos risos... ei-no, ela confundiu -se, primeiro pensou em Exu (nem sempre é negativo), Xangô, pela beleza negra e altivez, finalmente Oxóssi, um dos mais belos orixás, príncipe das matas. Não joga para perder, corre com o vento entre as árvores das florestas, obssecado, mas sem desespero, adia seus desejos. Talvez tenha em seu coração um amor misturado com ódio. Beija doce e o doce corpo provado, quer canibalmente comer, possuir completamente uma vulva apertada, mamar como criança nos maiores seios que já tocou, matar e comer aos pedacinhos... e guardar a alma amada que não o amou, num potinho de vidro transparente. Uma alma que não se arrepende, que não demonstra medo, sem expressão, que não o assombra.
Há outras formas de punir sempre a pessoa amada, pensa, com arrepios, mas sem arrependimentos. Compôs um vídeo, pôs no fundo frases do conto de Bukowski preferido dela. A mulher mais linda da cidade, que não era mais ela, cara e alma desfiguradas, no seu lugar, já tomando seus pensamentos, nessa capacidade que a emoção tem de se refazer brutal ou docemente, ou mascarar-se, uma magra mulher branca de longos cabelos pretos. Ela também tinha no olhar o desamor por ele. Sentia vontade de tatuar todo seu corpo até que ela morresse, bastante colorida.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A UM DRUMOND,VINICIUS,PESSOA ...


A um poeta se deve amar com delicadeza, com uma sensibilidade de quem "ouve estrelas". Acreditar que ressoa na concha do mar, verdadeiro barulho de ondas. Hô, não, não se deve ter medo de ostras ou outros frutos do mar. Não prender o cabelo e sair na chuva é coisa que poeta faz suas apaixonadas, entre irritadas e sem defesa, e por amor acompanhar tais poetas.
E o senso comum se configura ao dizer que todo homem de letras tem um pouco de loucura, olhe! Veja lá Dom Quixote. Lutando contra seus moinhos-dragões em busca de uma amada-delírio. Amar um poeta é entender que a lua é sua morada. Sua realidade é circunscrita a um poema dos heterônimos de Fernando Pessoa. Poetas são acidamente críticos, melhor ser musa que objeto de suas críticas.
Poetas pertencem a uma fauna ainda abundante, longe da extinção. Poetas poéticos, amo-os. Embora sabendo desses cuidados de porcelana rara. Essa vossa fã é extremamente desajeitada, de vez em quando quebra pratos. Pobres poetas caquinhos. Mas com a capacidade que têm de ver além dos simplórios seres humanos comuns, fazem versos com a própria tristeza.
Poetas, poetas...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

CHINA: PROSTITUTA DO CAPITALISMO


Antes mesmo de começar, as Olimpíadas de Pequim já causaram muita polêmica, principalmente por causa da situação do Tibete. As pessoas ainda não sabem o que pensar da China: um vilão dos direitos humanos ou um emergente esforçado? Esse é um momento que deveria celebrar a união dos povos, e o povo chinês merece essa oportunidade, porém o governo chinês ainda está deixando muito a desejar no campo da política internacional. A China ainda não se abriu para um diálogo significativo com o Dalai Lama, nem mudou sua atitude em relação à Birmânia (Myanmar), Darfur ou outros assuntos importantes.

Os chineses mais radicais só estão piorando a situação, dizendo que o ativismo nas Olimpíadas é antichinês e antiolímpico. Nós não podemos ficar calados, mas também não podemos deixar que os nossos esforços sejam usados como argumentos para nacionalistas preconceituosos. Por isso nossa reação é uma ação positiva, alinhada aos ensinamentos do Dalai Lama, que celebra o espírito olímpico, a união dos povos e a amizade: o aperto de mãos.

Campanha da AVAAZ pró- Tibet (direitos humanos)

http://www.avaaz.org/po/handshake


Nosso aperto de mãos global começou em Londres, onde milhares de pessoas formaram uma fila gigante para passar o aperto de mão do Dalai Lama até a Embaixada Chinesa.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008


Áspero amor, violeta coroada de espinhos,
cipoal entre tantas paixões eriçado, lanãa das dores,
corola da colera, por que caminhos
e como te dirigiste a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso, de repente,
entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que até mim te levaram?
que flor, que pedra, que fumaãa
mostraram minha morada?
O certo é que tremeu noite pavorosa,
a aurora encheu todas as taãas com teu vinho
e o sol estabeleceu sua presenãa celeste,
enquanto o cruel amor sem trégua me cercava,
até que lacerando-me com espadas
e espinhos abriu no coração um caminho queimante.

Pablo Neruda


segunda-feira, 16 de junho de 2008

A MAIS BELA MORTE




Madrinha Dourada, já quase aos oitenta, descendentes de índios, quase sem dentes, lavadeira imprescíndivel às patroas brancas do Bairro de Fátima, tomava uma caninha. Não lembro do que morreu, da cachaça, de cirrose, de simpatia, de dignidade, não sei. Morreu no fim de tarde, e por toda a noite, nós os vizinhos, filhos dos vizinhos (eu) a velamos por toda a madrugada. Acho que foi a primeira madrugada que passei acordada, deslumbrada com a morte e sua mortalha. Morte calma de madrinha Dourada, deixou seu Dourado viúvo. Morreu como um passarinho, diziam os mais velhos. Mas eu sempre achei morte de passarinho mais dramático.
Mais tarde morreu um tio desconhecido. Nessa época já crescida, tinha pavor de defuntos, costume nordestino, minha mãe me obrigou a vestir as meias no finado. Um horror. Mas pasmem desde daí, nunca mais senti medo de quem já morreu.
Na adolescência, menina complicada, angustiada, patinha feia, fui por algum tempo mórbida, enamorada pela danada da morte. Um amigo, irmão das antigas, quebrou meu cristalzinho transparente. Ensinou-me espiritismo kardecista. A alma sobrevive a morte do corpo. E tome aqueles passes que deixam a gente zen, viciada que nem sacristão em hóstia. Tornei-me louca pela vida, quer dizer, isso depois da experiência psicótica.
Lembro agora de Sinval, um garotinho de três ou quatro anos, filho adotivo de uma prima do interior. Chegou à Teresina para um sério tratamento de saúde, filho quase abortado de uma alcolátra, tremia as mãozinhas e tinha algum problema no coração. Fez uma delicada cirurgia, morreu numa bela manhã de final de maio, muito vento, sol, luz. Velamos seu corpinho, num caixão azul na capela do cemitério, sem curiosos. Porque a morte é pública.
A morte é pública e tantas mulheres lindas, que andam toda a vida maquiadas, vão lá em suas mortalhas horrorosas, sem que uma amiga lhe passe um batom, nos lábios amarelos, sem sangue. Morte ruim.
E os poetas que morriam e ainda morrem de excesso. Por favor caríssimos artistas, heróis que morrem de overdose, agora que o prazer é um risco de vida, morrem de AIDS. Pintem mais um quadro, componham mais uma música, mais uma poesia, façam mais um filme ou lembrem duma amada preocupada.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

CONFISSÃO




Aborreço-te muito. Em ti qualquer cousa
De frio e de gelado, de pérfido e cruel,
Como um orvalho frio no tampo duma lousa,
Como em doirada taça algum amargo fel.

Odeio-te também. O teu olhar ideal
O teu perfil suave, a tua boca linda,
São belas expressões de todo o humano mal
Que inunda o mar e o céu e toda a terra infinda.

Desprezo-te também. Quando te ris e falas,
Eu fico-me a pensar no mal que tu calas
Dizendo que me queres em íntimo fervor!

Odeio-te e desprezo-te. Aqui toda a minh`alma
Confessa-to a rir, muito serena e calma!
................................................................................
Ah, como te adoro, como eu te quero amor!....

Florbela Espanca

quarta-feira, 21 de maio de 2008

A VIDA É UM SONHO


Não te aproximes, mulher misteriosa, para me conhecer,
é mais sonho a vida que algo concreto.
Tua voz é algo inalcançável para mim, a mulher, a esperança,
a que todo poeta tem na alma, a perfeição.

Quando te tiver próxima já serás, apenas, vulgar matéria.
Sim, serás mais humana, mais verdade, serás por fim real,
mas estarão findos meus sonhos de louco poeta,
pois só sou humano quando estou em meu mundo irreal.

Quando estiveres ao meu lado já não serás minha musa;
serás o inalcançável com tua mão estendida,
essa mão que nunca conseguirei estreitar.
E teu braço será a testemunha que acusa
a quem lhe responda, que a vida não é assim,
que vá!, que vá!

Ramón Sampedro
(Cartas do Inferno)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

DESEJO


O eterno retorno é uma idéia misteriosa, e Niestsche, com essa idéia, colocou muitos filósofos em dificuldade:pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?
(Milan Kundera)


Sentia desejo em todo seu corpo. E apesar do medo da repetição niestschiana. Do medo de morrer louca como o filósofo, escrevendo cartas alucinadas:"Aridne, eu te amo". Enlouqueceu porque perdeu um jogo de dados com Deus e amava desbragadamente a arte, era um Dionísio. Ela, nossa personagem, aquela que eu já quis matar várias vezes, impedida por amigos piedosos acordara hoje de um surto psicótico. Passara alguns dias nesse país das maravilhas fantásticas que é a loucura. Não escrevo com a decência de uma Clarice Lispector, sutileza e um conhecimento da alma humana que invejo, entrego logo o doce à criança, não tenho paciência, de explicar que doce em demasia estraga os dentes.
O desejo e a razão são sentimentos opostos. O desejo pode comparar-se a um poeta indecente, homem voluptuoso e belo, tentador sempre e a razão, pobre mulher, cega como a justiça, tentando guiar-se pelas ruas com sua varinha, as escuras, com a ajuda de um ou outro, mas altiva e confiante em seus outros sentidos que a salvam das quedas.
O desejo é o abismo. Doce como bombons finos, elegantes. Melhor não tocar, pensa a mulher-razão, são caros, posso pagar com dor. Todo seu corpo, apesar do desejo se retraí a idéia, instinto de conservação da sanidade. Mas impedir que seu corpo o sinta, é uma ordem cruel demais dada ao cérebro, que se rebela a aceitá-la. Então seu corpo que não a obedece, senão a biologia. Todos os seres humanos na sua diversidade, todas as pessoas são fruto de uma relação sexual, não necessariamente duma relação de amor, mas do desejo. Lembra que a cadela da casa está novamente prenha. Espera ansiosa beijocar os novos e peludos cahorrinhos.
Seios e vulva, bunda, coxas, dedos do pé e mãos desejam o outro. A língua o sabor de um falo.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

SEPARAÇÃO


De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama.

Soneto da Separação
Vinícius de Morais

domingo, 11 de maio de 2008

VIVER DENTRO DA VERDADE


É uma fórmula que Kafka usou num diário ou numa carta. Franz não se lembrava bem. Estava seduzido por essa fórmula. O que era viver dentro da verdade? Uma definição negativa era fácil: era não mentir, não se esconder, não dissimular nada. Depois que conhecera Sabina vivia na mentira. Conversava com sua mulher sobre congressos em Amsterdã, conferências em Madri que jamais haviam acontecido, tinha medo de passear com Sabina nas ruas de Genebra.
Acha divertido mentir e esconder-se, já que nunca o fizera antes. Sente o prazer de um primeiro aluno da turma que decide um dia, finalmente, fazer gazeta.
Para Sabina, viver dentro da verdade, não mentir nem para si nem para os outros, só seria possível se vivêssemos sem público. Havendo uma única testemunha de nossos atos, adaptamos-nos de um jeito ou de outro aos olhos que nos observam, e nada mais do que fazemos é verdadeiro. Ter um público, pensar no público, é viver na mentira. Sabina despreza a literatura em que o autor revela todo a sua intimidade, e também a de seus amigos. Quem perde sua própria intimidade perde tudo, pensa Sabina. E quem a ela renunciar conscientemente é um monstro. Por isso Sabina não sofre por ter de esconder seu amor. Ao contrário, para ela esta é única forma de viver "dentro da verdade".
Quanto a Franz, está convencido de que na separação entre sua vida privada e sua pública está a fonte da mentira. Para Franz, viver "dentro da verdade" é abolir a barreira entre o privado e o público. Mencionava, com prazer, a frase de André Breton em que ele dizia que gostaria de viver "numa casa de vidro" onde nada é secreto e que estar aberta a todos os olhares.
Ao ouvir sua mulher dizer a Sabina "Que jóia horrorosa!", compreendera que era impossível continuar vivendo nesse desdobramento. Naquele momento deveria ter tomado a defesa de Sabina. Se não o fez, foi unicamente por medo de revelar seus amores clandestinos.

Da biblía

segunda-feira, 28 de abril de 2008

ALGUMAS MULHERES AMAM EXCESSO DE FOFURA!



Quando às vezes o mar soluça tristemente
A praia abre-lhe os braços, e deixa-o a gemer;
Embala-o com amor, de leve, docemente,
E canta-lhe cantigas pra adormecer!

Triste Destino (fragmento)
Florbela Espanca

domingo, 27 de abril de 2008

SONETO DA DESESPERANÇA


De não poder viver na esperança
Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho
Secreto, onde ao sabor do seu capricho
Fugisse a vê-la como uma criança.

Tão cauteloso fez-se em seus cuidados
De não mostrá-la ao mundo, que a queria
Que por zelo demais, ficaram um dia
Irremediavelmente separados.

Mas eram tais os seus ciúmes dela
Tão grande a dor de não poder vivê-la,
Que em desespero, resolveu: - Mato-a.

E foi assim que triste como um bicho
Uma noite subiu até o nicho
E abriu o coração diante da estátua.

Vinícius de Moraes

sexta-feira, 25 de abril de 2008

INVEJA DA MULHER DO POETA!




A ESSA ALTURA DA VIDA

A essa altura da vida
- ou melhor, nessa baixada -
continuo comovido,
continuo enamorado.

Beijo Lio, a namorada,
por ser meu ente querido.
(Continua apaixonada
minha alma, de amor vencida.)

Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 15 de abril de 2008

ESTÓRIAS DE MARIA DA CONCEIÇÃO: SOB O LUAR SE HOUVESSE UM




Eles a perseguiam com o olhar. Coçavam o ovo quando ela passava. A safada numa micro saia jeans, coxas grossas e aqueles peitos no mundo. Era de lamber os beiços, pensava o "caboco", como se diz em bom piauiês. Mas hoje especialmente "a mulher mais linda da cidade", que se divertia em provocar meia dúzia de homens rústicos que jamais a tocariam. Não se divertia em descer um pouquinho mais o decote, morder levemente os lábios, passando levemente a mão nos cabelos curtissímos.
Um mau pressentimento, uma dor, uma saudade nova de uma coisa antiga, presente novamente e que já parece perdido. Suspirou. Perguntas existenciais a perseguiam todo o dia.
Dificuldade de conversar com homens. Quando era casada achava difícil manter-se esposa. Namorada, descobrira-se uma Calipso ciumenta, capaz de fazer sertão virar mar. Ser amante de homem casado, subterrânea, amada entre aspas, não queria mais. Quase tudo para outra, nada para ela.
Bonita, e vaidosa, mulherão... e um homem difícil na cabeça. Por que aquele cara sempre promete? E ela sempre acredita. Sentia vontade de revê-lo. Quantas ligações recebera de outros? Mas seu coração só reconhece um som. A memória da sua pele, seus poros que transpiram na hora do amor, excitam-se à lembrança dele.
Suspira novamente, muitos afazeres. Nada tem sentido. Dá vontade de dançar ou naquela noite sem luar, urrar, urrar muito e alto. Porque é uma loba de quarenta anos, solitária e no cio.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

A COMPANHEIRA


A companheira
da vida inteira,
que ao meu lado
une o passado
ao novo dia
em harmonia,
a sempre forte
e meu suporte
quando vacilo,
porte tranqüilo,
voz de carinho
no meu caminho,
leal, paciente
constantemente,
simples, discreta
força do poeta,
quero-a no instante
final - constante
com sua mão
acarinhando
em gesto brando
meu coração.

Carlos Drummomd de Andrade

Uma moça me mandou scrap me pedindo material sobre Drummond, para confecção de uma monografia. Infelizmente, realmente guardei por algum tempo raras entrevistas dele, não sei mais o destino delas... então outro dia encontrei essa edição Mestres da Literatura Brasileira e Portuguesa, Carlos Drummond de Andrade - Poesia Errante - Derrames líricos ( e outros nem tanto, ou nada) de 1988, com um breve e singelo prefácio de escrito por Ziraldo, editora Record. Bom Drummond, para monografia ou não.

sábado, 12 de abril de 2008

APENAS POR ISSO


Vou me expandir tanto para poder te acariciar
que minha carne mortal se transformará em átomos invisíveis
e quando sentires, sem saber por que, um tremor de paixão será porque te envolve, ainda que não
o compreendas, esse amor ideal.

Assim que vi teus olhos,
lembras quando fitei teus olhos a última vez?,
não se cerraram meus olhos desde aquele instante
-- vejo-te em sonhos --,
mas me enrubesce acariciar-te com palavra
e não compreendo bem o porquê.
(fragmento)

Ramón Sampedro

quinta-feira, 10 de abril de 2008

ATITUDE




Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa,

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

CECÍLIA MEIRELES

terça-feira, 8 de abril de 2008

PERCEBES


Quando conversamos estava eu triste;
tu perguntaste a causa de minha tristeza.
Mulher, a causa de meu mal sempre é a mesma:
adoro o belo e tu és a beleza.

Amiúde sou como o Quixote:
idealizo-te dona de minha loucura
mas nunca esqueço que é apenas um sonho.
A causa de meu mal, percebes!, é a prudência.

Ramón Sampedro
(Cartas do Inferno)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

DOIDA CRÍTICA!!!!!


A partir dessa postagem, tentarei experimentar minha veia crítica, comentando em crônicas alguns escritos, "fatos sociais". Como socióloga, apaixonada por literatura, principalmente a poesia, professora que sou, usando a ferramenta da palavra e a paixão pelos livros, me arriscarei por aqui resenhar algumas obras, como o faço no meu dia-a-dia com os alunos: uma ponte entre a análise sociológica e a fala social que per passa pela arte, seja ela, a música, a poesia, a pintura, etc.
Então escolhi, sem a licença do poeta, ainda vivo, o catarinense Nilo Neto, amigo e afeto precioso analisar sua poesia a partir do momento virtual, dos verdadeiros livros virtuais que são os blogs. Os poetas de blog que chamo, expressão que não denota nenhum desvalor a tais.
Li vários blogs de poesias, estilos os mais variados, temáticas que vão sempre do amor (como cabe a todo poeta escrever), a violência urbana, política, erotismo, etc. Sou uma apaixonada por "clássicos" da poesia brasileira, cresci lendo Carlos Drumond de Andrade, cheguei mesmo na adolescência a escrever uma carta a ele, não a remeti, com receio que me achasse tola. Quando morreu, pensei que poderia ter em mãos a resposta daquela carta. Me arrependo até hoje. Meu tesão sociológico, como diz o mestre e doutor Francisco Junior, me atiça a excursão pela alma da poesia deste outro poeta. Não gostaria de me arrepender de não tê-la feito um dia.
Acho que aos dezoito ou antes, ganhei um Manuel Bandeira, perdido em mudanças ou emprestado. Aquele que começa assim: "Não abra o meu livro se não tens motivo para chorar", parecido com o Livro de Mágoas de Florbela Espanca. Há vários momentos na poesia de NN, com esta etiqueta-aviso da tristeza, que não nos afasta, e sim nos atraí e marca, como se dividíssimos a dor contida no verso do poeta. Estiloso como poeta triste imprime uma marca, como bom publicitário que é. Second Life quando aborda o tema dos amores virtuais. Amadas que são apenas reflexos num espelho, inatingíveis. Amores reais, na confusão da realidade virtual? Creio eu, uma romântica apaixonada por poesia, que tenha amado a todas elas, musas residentes em várias partes do Brasil. Sua poesia é singela ao tratar desse tema "cibernético", porque consegue "materializar" o virtual, uma nova forma de relacionamento
emocional, amplamente utilizada nessa época pós-namoro na TV e o correio sentimental das revistas de fotonovelas. Há belos versos no blog.
A cultura, o carnaval, Santa Catarina, a ilha, são homenageados pelo poeta além de suas mulheres mentirosas. Que o amor trouxesse sempre doçura, compaixão absoluta, nunca a solidão e a loucura, aos poetas, esses seres iluminados, tradutores da nossa subjetividade, os versos do nosso poeta seriam mais doces. Choveria e faria sol em seu coração, como num semi-árido paradoxal.

REEDITANDO POSTAGEM: A pedido de leitores, obrigada pela "audiência". Um pouco mais da poesia de NN. Infelizmente o blog é privado. Mas deixo o link para negociações com o autor.
E a advertência dele que toda a obra é ficção, qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. Claro, poeta seu eu lírico tem plena e criativa licença poética.

"ando seco.
a pena esturricou.

o coração fechado
pra balanço
do barco.

um caco
de telha
sem uso.

intruso,
em meu próprio
castelo de espelhos.

todos os que percebo,
todas as sombras e a base,
são mesmo o fim da escada.

e não me peçam mais nada.
eternos espinhos cravados.
metáforas gastas e pobres.

deixem-me torrar os cobres,
nos sons da poesia alheia.
nessa gente feita de areia.

tudo emancipado e nu.
tudo acidente, sem conexão.
até que chova em meu coração.

http://mentirosamulher.blogspot.com

Reeditando postagem: Blog reaberto. Um autor é para ser lido por todos.






RÊ BORDOSA

RÊ BORDOSA
TUDO DE DOIDA!

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Teresina, Nordeste...Piaui, Brazil