É uma fórmula que Kafka usou num diário ou numa carta. Franz não se lembrava bem. Estava seduzido por essa fórmula. O que era viver dentro da verdade? Uma definição negativa era fácil: era não mentir, não se esconder, não dissimular nada. Depois que conhecera Sabina vivia na mentira. Conversava com sua mulher sobre congressos em Amsterdã, conferências em Madri que jamais haviam acontecido, tinha medo de passear com Sabina nas ruas de Genebra.
Acha divertido mentir e esconder-se, já que nunca o fizera antes. Sente o prazer de um primeiro aluno da turma que decide um dia, finalmente, fazer gazeta.
Para Sabina, viver dentro da verdade, não mentir nem para si nem para os outros, só seria possível se vivêssemos sem público. Havendo uma única testemunha de nossos atos, adaptamos-nos de um jeito ou de outro aos olhos que nos observam, e nada mais do que fazemos é verdadeiro. Ter um público, pensar no público, é viver na mentira. Sabina despreza a literatura em que o autor revela todo a sua intimidade, e também a de seus amigos. Quem perde sua própria intimidade perde tudo, pensa Sabina. E quem a ela renunciar conscientemente é um monstro. Por isso Sabina não sofre por ter de esconder seu amor. Ao contrário, para ela esta é única forma de viver "dentro da verdade".
Quanto a Franz, está convencido de que na separação entre sua vida privada e sua pública está a fonte da mentira. Para Franz, viver "dentro da verdade" é abolir a barreira entre o privado e o público. Mencionava, com prazer, a frase de André Breton em que ele dizia que gostaria de viver "numa casa de vidro" onde nada é secreto e que estar aberta a todos os olhares.
Ao ouvir sua mulher dizer a Sabina "Que jóia horrorosa!", compreendera que era impossível continuar vivendo nesse desdobramento. Naquele momento deveria ter tomado a defesa de Sabina. Se não o fez, foi unicamente por medo de revelar seus amores clandestinos.
Da biblía
Acha divertido mentir e esconder-se, já que nunca o fizera antes. Sente o prazer de um primeiro aluno da turma que decide um dia, finalmente, fazer gazeta.
Para Sabina, viver dentro da verdade, não mentir nem para si nem para os outros, só seria possível se vivêssemos sem público. Havendo uma única testemunha de nossos atos, adaptamos-nos de um jeito ou de outro aos olhos que nos observam, e nada mais do que fazemos é verdadeiro. Ter um público, pensar no público, é viver na mentira. Sabina despreza a literatura em que o autor revela todo a sua intimidade, e também a de seus amigos. Quem perde sua própria intimidade perde tudo, pensa Sabina. E quem a ela renunciar conscientemente é um monstro. Por isso Sabina não sofre por ter de esconder seu amor. Ao contrário, para ela esta é única forma de viver "dentro da verdade".
Quanto a Franz, está convencido de que na separação entre sua vida privada e sua pública está a fonte da mentira. Para Franz, viver "dentro da verdade" é abolir a barreira entre o privado e o público. Mencionava, com prazer, a frase de André Breton em que ele dizia que gostaria de viver "numa casa de vidro" onde nada é secreto e que estar aberta a todos os olhares.
Ao ouvir sua mulher dizer a Sabina "Que jóia horrorosa!", compreendera que era impossível continuar vivendo nesse desdobramento. Naquele momento deveria ter tomado a defesa de Sabina. Se não o fez, foi unicamente por medo de revelar seus amores clandestinos.
Da biblía
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