quinta-feira, 15 de maio de 2008

DESEJO


O eterno retorno é uma idéia misteriosa, e Niestsche, com essa idéia, colocou muitos filósofos em dificuldade:pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente! O que significa esse mito insensato?
(Milan Kundera)


Sentia desejo em todo seu corpo. E apesar do medo da repetição niestschiana. Do medo de morrer louca como o filósofo, escrevendo cartas alucinadas:"Aridne, eu te amo". Enlouqueceu porque perdeu um jogo de dados com Deus e amava desbragadamente a arte, era um Dionísio. Ela, nossa personagem, aquela que eu já quis matar várias vezes, impedida por amigos piedosos acordara hoje de um surto psicótico. Passara alguns dias nesse país das maravilhas fantásticas que é a loucura. Não escrevo com a decência de uma Clarice Lispector, sutileza e um conhecimento da alma humana que invejo, entrego logo o doce à criança, não tenho paciência, de explicar que doce em demasia estraga os dentes.
O desejo e a razão são sentimentos opostos. O desejo pode comparar-se a um poeta indecente, homem voluptuoso e belo, tentador sempre e a razão, pobre mulher, cega como a justiça, tentando guiar-se pelas ruas com sua varinha, as escuras, com a ajuda de um ou outro, mas altiva e confiante em seus outros sentidos que a salvam das quedas.
O desejo é o abismo. Doce como bombons finos, elegantes. Melhor não tocar, pensa a mulher-razão, são caros, posso pagar com dor. Todo seu corpo, apesar do desejo se retraí a idéia, instinto de conservação da sanidade. Mas impedir que seu corpo o sinta, é uma ordem cruel demais dada ao cérebro, que se rebela a aceitá-la. Então seu corpo que não a obedece, senão a biologia. Todos os seres humanos na sua diversidade, todas as pessoas são fruto de uma relação sexual, não necessariamente duma relação de amor, mas do desejo. Lembra que a cadela da casa está novamente prenha. Espera ansiosa beijocar os novos e peludos cahorrinhos.
Seios e vulva, bunda, coxas, dedos do pé e mãos desejam o outro. A língua o sabor de um falo.

Um comentário:

Unknown disse...

a razão sempre ma pareceu uma mulher mesmo, mas não cega, bem mais poderosa do que o desejo, que para mim sempre parece uma mulher também. hoje uma mulher-homem.
Mas este é um texto lindo, querida. Tu és corajosa e bonita!
E me emocionaste muito!

RÊ BORDOSA

RÊ BORDOSA
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