sábado, 12 de janeiro de 2008

O DIA EM QUE A TERRA ... ( parte 2 )

A moça dos vinte, quase trinta anos, candomblecista, esotérica, acredita em gnomos, cabala e anjos. Moça esclarecida, mais de um curso na área de humanas,classe média ascendente, passou em concurso público, está adquirindo tecnologia, do computador às maravilhas da cozinha modernissíma "shopping house", com toda sorte de bugigangas eletrônicas.
Olhou demoradamente a chuva e finalmente resolveu não sair de casa. Ligou para o trabalho e desmarcou outros compromissos do dia, alegando cólicas. Achou que não acreditariam, era tida como hipocondríaca, mas aquelas cólicas eram reais, dolorosas, quase insuportáveis. E onde a tecnologia farmacológica que não resolvia problemas femininos tão cruciais como o seu?
Inadimissível uma mulher pós-moderna, atuante, perder um dia útil produtivo, plena segunda-feira, por uma causa natural: menstruação: a saúde da mulher. Onde os analgésicos de última geração? O tradicional regulador Xavier? Legal o último comercial de um novo comercial para hemorróidas. Aquilo tudo lhe lembrava um livro de Manuel Puig e a classe média argentina, com seus valores não muito diferentes dos da classe média brasileira. Pensando nisso, folheou alguns livros, ainda de pijama, que não passava de uma velha camiseta engajada com frases panfletárias sobre consciência negra. Possuia outras, velhas e novas, do movimento feminista, meninos e meninas de rua, apoia aos soros positivos, por uma escola pública de qualidade... afinal era uma intelectual de vanguarda, politicamente correta, gramstiamente orgânica.Claro, confessavelmente meio, só meio enquadrada no sistema. Morava sozinha, projeto de mulher independente, do futuro, rompendo barreiras, tabus e preconceitos. Mulher tão frágil diante daquelas debilidades do organismo feminino. Menstruação foi um erro divino, maldita desminorréia, poderia ser apenas um vômito.

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RÊ BORDOSA

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