sexta-feira, 7 de março de 2008

VIRGINIA WOOLF (Profissão para Mulheres)... final



... quero que vocês me imaginem escrevendo um romance em estado de transe. Quero que vocês figurem uma menina sentada com uma caneta na mão, que por minutos, e na verdade por horas, ela nunca molha a tinta. A imagem que me vem a mente quando penso nessa menina é a de um pescador imerso em sonhos à beira de um lago profundo, segurando um caniço sobre a água. Ela estava deixando sua imaginação disparar desenfreada por entre todas as rochas e fendas do mundo que ficam submersas nas profundezas do nosso inconsciente. Agora veio a experiência, a experiência que acredito ser realmente mais comum com as mulheres escritoras que com os homens. A linha correu pelos dedos da menina. Sua imaginação disparou . Buscou as lagoas, as profundezas, os lugares escuros onde cochila o maior peixe. E de repente, um estrondo. Uma explosão. Espumas e confusão. A imaginação havia lançado contra algo duro. A garota foi despertada de seu sonho. Ela estava na verdade no estado de mais aguda aflição. Para falar sem meias-palavras, ela tinha pensado em algo, algo sobre o corpo, sobre as paixões que para ela, como mulher, não seria apropriado dizer. Os homens, sua razão dizia, ficariam chocados. A consciência do que os homens diriam de uma mulher que falasse a verdade sobre suas paixões havia a despertado do estado de inconsciência da artista. Ela não podia mais escrever. O transe tinha acabado. Sua imaginação não podia mais funcionar. Eu acredito que isto seja uma experiência de fato comum com as mulheres escritoras - elas são impelidas pelo extremo convencionalismo do outro sexo. Porque apesar de os homens sensata mente se permitirem grande liberdade nesse aspecto, eu duvido que eles percebam ou possam controlar a extrema severidade com que condenam tal liberdade nas mulheres.
.... Aparentemente, que obstáculos existem mais para uma mulher que para um homem? Mas visto por dentro, penso eu, o caso é muito diferente; ela ainda tem muitos fantasmas com que lutar, muitos preconceitos para superar. Na verdade, creio que ainda passará um longo tempo antes que uma mulher possa sentar para escrever um livro sem encontrar um fantasma para ser assassinado, uma rocha para ser golpeada. E se é assim em literatura, a mais livre de todas as profissões para mulheres, como será nas novas profissões em que vocês estão ingressando agora pela primeira vez?
.... Mesmo quando a trilha está nominalmente aberta - quando não há nada impedindo uma mulher de ser médica, advogada, funcionária pública - há muitos fantasmas e obstáculos, como acredito, avultando seu caminho. Acho que discutí-los e defini-los seja de grande valia e importância; pois somente a partir daí o trabalho pode ser repartido, e as dificuldades superadas.

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