"... Artigos devem falar sobre algo. O meu, pelo que lembro, era sobre o romance de um homem famoso. E enquanto estava escrevendo esta resenha, descobri que se fosse resenhar livros precisaria travar batalhas com um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando vim a conhecê-la melhor eu comecei a chamá-la como a heroína de um famoso poema. The Angel in the house (O anjo da casa) Era ela que acostumava aparecer entre mim e o papel quando eu estava escrevendo resenhas. Era ela que me incomodava e roubava meu tempo e assim me atormentava até que afinal eu a matei. Vocês, que vêm de uma geração mais jovem e mais feliz não devem ter ouvido falar dela - vocês não devem saber o que eu quero dizer com o Anjo da Casa. Eu vou descrevê-la da forma mais suscinta possível. Ela era intensamente compassiva. Era imensamente encantadora. Era profundamente abnegada. Ela dominava todas as difícies artes da vida familiar. Sacrificava-se diariamente. Se havia galinha, ela ficava com o pé; se havia uma corrente de ar, tomava seu lugar nela - resumindo, ela era tão condescendente que nunca tinha uma idéia ou desejo próprio - em vez disso preferia concordar sempre com as idéias e desejos dos outros. Acima de tudo - nem preciso dizer - era pura. A pureza era considerada sua maior beleza - o rubor de suas faces, sua graça maior. Naqueles dias - os últimos da Rainha Vitória - cada casa tinha seu anjo. E quando vim a escrever encontrei com ela bem nas primeiras palavras. A sombra de suas asas caiu sobre a página; e ouvi no quarto o roçar de suas saias. Na mesma hora, isto é, quando peguei a caneta em minha mão para resenhar aquele romance do homem famoso, ela deslizou por trás de mim e sussurrou: "Minha querida, você é uma moça. Você está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja complacente, seja terna, adule, use todas as artes e truques de seu sexo. Nunca deixe ninguém supor que você tem uma vontade própria. Antes de tudo, seja pura". E ela como que guiava minha caneta... Eu me voltei contra ela e a agarrei pelo pescoço. Fiz o possível para matá-la. Minha alegação, se fosse levada a julgamento, seria a de que agi em legítima defesa. Se eu não a tivesse matado, ela teria me matado. Ela teria arrancado o coração do meu texto.
quarta-feira, 5 de março de 2008
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RÊ BORDOSA
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