quinta-feira, 6 de março de 2008

VIRGINIA WOOLF (Profissão para Mulheres)... 3



Porque, como percebi no momento que coloquei a caneta no papel, você não pode resenhar sequer um romance sem ter uma opinião sua, sem expressar o que você acha ser verdadeiro nas relações humanas, na moral, no sexo. E todas essas questões, de acordo com o Anjo da Casa, não podem ser tocadas livre e abertamente por mulheres; elas devem conciliar, elas devem - para ser direta - mentir, se for preciso para que se saiam bem. Portanto, todas as vezes que eu sentia a sombra de sua asa ou a luz de sua aura radiante sobra a página, eu pegava o pote de tinta e jogava sobre ela. Ela custou a morrer. Sua natureza fictícia era para ela de grande valia. É extremamente mais difícil matar um fantasma que uma realidade. Ela estava sempre deslizando de volta quando eu pensava que tinha liquidado com ela. Embora me gabe de tê-la matado no fim, a luta foi dura, tomou muito tempo que poderia ter sido melhor empregado no aprendizado de gramática grega, ou errando pelo mundo atrás de aventuras. Mas foi uma experiência de verdade; uma experiência que estava prestes a acontecer com todas as escritoras daquele tempo. Matar o Anjo da Casa era parte das tarefas da escritora.
Mas para continuar minha história, o Anjo estava morto. E o que restou então? Vocês poderiam dizer que o que restou foi um objeto simples e comum- uma jovem num quarto com um pote de tinta. Em outras palavras, agora que ela tinha se livrado da falsidade, que a jovem só tinha que ser ela mesma. Ah, mas o que é "ela mesma"? Quer dizer, o que é uma mulher? Eu lhes asseguro que não sei. Não acredito que vocês saibam. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana.

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RÊ BORDOSA

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