segunda-feira, 31 de março de 2008

PERDOA-ME ... ( 5 )


Amado mar

Amado meu:


Sua calma serena e tranqüila me embeleza quando a Lua ilumina seu semblante na noite tropical.
Seu sorriso branco e encrespado me transtorna; e abobalhada também sorrio.
Fico enlouquecida quando você se agita e ruge apaixonadamente. Sobre seu ondulado ventre me embala e se agita como um furacão. Parece um erótico e frenético bailarino.
Como uma amante vaidosa, deixo que suas delicadas carícias me desejem. Quisera em você penetrar para adorá-lo eternamente, meu sedutor amante, o mar.


Quando nas tormentas o mar se enfurece e ruge raivoso
e arrasta os barcos com os marinheiros para o fundo do mar,
é o despeitado e feroz Netuno que está dando socos de amante ciumento
porque uma sereia e um marinheiro voltaram a se olhar.
(A sereia e o naúfrago)

Ramón Sampedro
Cartas do Inferno (livro que deu origem ao filme Mar Adentro)

domingo, 30 de março de 2008

PERDOA-ME ... ( 4 )



QUEM DE NÓS DOIS

Eu e você
Não é assim tão complicado
Não é difícil perceber
Quem de nós dois
Vai dizer que é impossível
O amor acontecer
Se eu disser que já nem sinto nada
Que a estrada sem você é mais segura
Eu sei, você vai rir da minha cara
Eu já conheço o teu sorriso, leio teu olhar
Teu sorriso é só disfarce
E eu já nem preciso

Sinto dizer que amo mesmo
Tá ruim pra disfarçar
Entre nós dois
Não cabe mais nenhum segredo
Além do que já combinamos
No vão das coisas que a gente disse
Não cabe mais sermos somente amigos
E quando eu falo que eu já nem quero
A frase fica pelo avesso
Meio na contramão
E quando finjo que esqueço
Eu não esqueci nada

E cada vez que eu fujo, eu me aproximo mais
E te perder de vista assim é ruim demais
E é por isso que atravesso o teu futuro
E faço das lembranças um lugar seguro
Não é que eu queira reviver nenhum passado
Nem revirar um sentimento revirado
Mas toda vez que eu procuro uma saída
Acabo entrando sem querer na tua vida

Eu procurei qualquer desculpa pra não te encarar
Pra não dizer de novo e sempre a mesma coisa
Falar só por falar
Que eu já não tô nem aí pra essa conversa
Que a história de nós dois não me interessa
Se eu tento esconder meias verdades
Você conhece o meu sorriso
Lê o meu olhar
Meu sorriso é só disfarce
Por que eu já nem preciso

Ana Carolina (Perfil)

PERDOA-ME ... ( 3 )


Essa dança parecia proclamar que sua dedicação, esse ardente desejo de sastifazer o que lia nos olhos de Tomas, mas que estava pronta a responder ao apelo de qualquer que fosse o homem que encontrasse em seu lugar. Não havia nada mais fácil do que imaginar Tereza e esse jovem colega como amantes. Era essa facilidade que o magoava. O corpo de Tereza era perfeitamente imaginável num abraço amoroso com qualquer corpo de homem, e essa idéia o deixava de mau humor. Tarde da noite, quando voltaram, ele revelou-lhe que estava com ciúmes.
Esse ciúmes absurdo, nascido de uma possibilidade toda teórica, era a prova de que ele considerava a fidelidade dela um princípio inatingível. Mas então, como poderia ele ter raiva do ciúme que ela sentia de suas amantes mais do que reais?

Da bíblia

sábado, 29 de março de 2008

PERDOA-ME ... ( 2 )


Mas, a partir desse momento, tudo pareceu conspirar contra ele. Não se passava praticamente um dia sem que ela descobrisse alguma coisa nova sobre seus amores clandestinos.
No começo negava tudo. Quando as provas eram muito evidentes, tentava demonstrar que não havia nenhuma contradição entre sua vida polígama e o amor que ele tinha. Não era coerente: ora negava suas infidelidades, ora justificava.
Um dia, telefonava a uma amiga para marcar um encontro. Quando a ligação terminou, ouviu um estranho barulho no quarto vizinho, como som de dentes batendo de frio.

Muito antes que ela descobrisse sua correspondência com Sabina, eles tinham ido a um cabaré com alguns amigos. Celebravam o novo emprego de Tereza. Ela havia deixado o laboratório de fotografias, e tornara-se fotógrafa de revista. Como ele não gostava de dançar, um de seus jovens colegas de hospital se ocupou de Tereza. Eles deslizavam magnificamente sobre a pista, e Tereza parecia mais bela do que nunca. Ele parecia estupefato de ver com que precisão e docilidade ela se adiantava uma fração de segundos à vontade de seu parceiro.

sexta-feira, 28 de março de 2008

PERDOA-ME POR "ME" TRAÍRES! ( 1 )


"No meio da noite, ela começou a gemer enquanto dormia. Tomas acordou-a, mas, ao ver o rosto dele, ela disse com raiva: - Vá embora! Vá embora! - Depois ela contou-lhe seu sonho: estavam em algum lugar com Sabina. Num quarto enorme. No meio havia uma enorme cama, parecia o cenário de um teatro. Tomas ordenou que ela ficasse num canto enquanto fazia amor com Sabina. Ela olhava e esse espetáculo lhe causava um sofrimento insuportável. Para sufocar a dor da alma com uma dor física, enfiou agulhas sob as unhas. - Senti uma dor atroz - disse ela, apertando os pulsos como se as mãos tivessem sido machucadas.
Ele apertou-a contra si e lentamente, sem parar de tremer, ela adormeceu em seus braços.
No dia seguinte, pensando nesse sonho, Tomas lembrou-se de uma coisa. Abriu a escrivaninha e tirou um pacotes de cartas de Sabina. No fim de alguns momentos, deu com o seguintes trecho: "Gostaria de fazer amor com você no meu ateliê como se fosse no palco de um teatro. Haveria pessoas em torno de nós e elas não teriam o direito de se aproximar. Mas não poderiam tirar os olhos de cima de nós..."

... Censurou-a: Você mexeu em minhas cartas!
Sem tentar negar, ela disse: - Está bem! Me mande embora!
Mas ele não mandou. Ele a via ali enfiando agulhas sob as unhas, encostada na parede do ateliê de Sabina. Pegou seus dedos, acariciou-os, levou-os aos lábios e beijou-os como se houvesse neles sinais de sangue.

REVOLTA


Quem impede o amor
comete o pior crime
possível pela humanidade.

Quem impede o amor
mata, afoga, judia
de quem tem coração.

Quem impede o amor
não tem visão de amor
nem sabe o que é amar.

Quem impede o amor
para mim é assassino
e hoje eu estou morta!

Marina Mar

MANIFESTO PELA LIBERDADE DO AMOR! PELA LIVRE EXPRESSÃO DO DESEJO...


Tá Combinado

Peninha

Então tá combinado, é quase nada
É tudo somente sexo e amizade.
Não tem nenhum engano nem mistério.
É tudo só brincadeira e verdade.
Podemos ver o mundo juntos,
Sermos dois e sermos muitos,
Nos sabermos sós sem estarmos sós.
Abrirmos a cabeça
Para que afinal floresça
O mais que humano em nós.
Então tá tudo dito e é tão bonito
E eu acredito num claro futuro
de música, ternura e aventura
Pro equilibrista em cima do muro.
Mas e se o amor pra nós chegar,
De nós, de algum lugar
Com todo o seu tenebroso esplendor?
Mas e se o amor já está,
se há muito tempo que chegou
E só nos enganou?
Então não fale nada, apague a estrada
Que seu caminhar já desenhou
Porque toda razão, toda palavra
Vale nada quando chega o amor...

sexta-feira, 21 de março de 2008

TIBET LIVRE!




terça-feira, 18 de março de 2008

SONETO DO AMOR TOTAL


Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amiga e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

E de amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Vinicius de Morais


"Os teus olhos são frios como as espadas,
E claros como trágicos punhais,
Tem brilhos de metais
E fulgores de lâminas geladas."
Florbela Espanca (Frieza - Livro de Soror Saudade)


"Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
São os teus braços, dentro dos meus braços:
Via-láctea fechando o Infinito!...
Florbela Espanca (Versos de Orgulho - Charneca em Flor)

"Teresa está imóvel, enfeitiçada diante do espelho, e olha seu corpo como se ele lhe fosse estranho; estranho, mesmo que no cadastro dos corpos ele lhe pertença. Dava-lhe náuseas. Não teve a força de tornar-se, para Tomas, o único corpo de sua vida. Ela foi enganada por esse corpo. Durante uma noite inteira sentiu nos cabelos do marido o cheiro íntimo de outra mulher!
Da bíblia (já citada várias vezes)

quarta-feira, 12 de março de 2008

LOVE ME TENDER!


Denzel Washington a encontrou numa das esquinas do centro de Teresina, perto da Casa da Cultura. Ele usava jeans e blusa verde água, ela uma blusa amarela. Sem decote ousado, mas que marcava sutilmente os peitos grandes, num bojo de sutian sensual. Dava vontade de apertar, depois de beijar sua boca acobreada. Ouro. Ele lhe dissera depois. Se encontraram, se cumprimentaram, ele reclamou de não tê-la vista na platéia do cinema, para ver seu último filme. Como? Você me percebe? Claro, a conheci quando assistiu Malcon X, as duas fitas, dois dias seguidos, junto com o namorado magrinho. Morri de ciúmes, aquele cara parecia uma moça! Ela besta, ouvindo Denzel Whashinton lhe segurar a mão, dizer que ficara mais bonita mais de dez anos depois. Mais gorda talvez. Linda. Ele respondeu.
Que vai fazer a tarde de hoje? Ele perguntou suado. Rindo com aquele sorriso de dentes brancos. Sorriso faceiro, conquistador. Ela sentiu vontade de tirar a roupa. Estava delirando, no sertão, em plena seca de 1915, lá na Raquel de Queiroz. Denzel Whashington falando com sotaque, rindo para ela. Convidando-a para fazer amor com ele. Gringo louco. Ele argumentava que a amava, há muito anos, só havia dois filmes dele que ela não tinha visto ainda. Era tão apaixonada. Sim, meu grande amor. Disse ela.
O motel naquela área especializada do bairro São Joaquim, com o rio Parnaíba no caminho e a alameda de bambuzais, mas só o percebeu poeticamente na volta, amada. Sentia-se a própria Rosa Púrpura do Cairo, só que cabocla. Negra da bunda e peito grande. Mas respirava com a mesma dificuldade de Mia Farrow, encantada com o homem que sai da tela e a ama. Denzel Whashington, não conseguia a intimidade para chamá-lo pelo primeiro nome. Só depois de nua, nos braços dele. Que homem doce. Ela tinha estado tão infeliz e solitária naquela manhã. Necessitada de carinhos. Então Denzel, deu banho nela. Ensaboou suas costas. Seus seios. Lavou seu sexo. E o beijou, solenemente, com um sorriso de desejo. Conversaram muito sobre muitas coisas do Brasil, que Denzel não entendia. Ela sentada no colo dele, enroladinha numa toalha branca, pernas grossas, masculinas. Não perdia uma expressão dele, um sorriso. Belo, belo...
Ela não perguntou quase nada, deixou que ele lhe falasse o que achasse importante para ela. Tomaram cerveja. Ele estava com quarenta e sete anos e sessenta e dois quilos. Nossa, sarado e disposto. Cães lhe apareciam. Ela também aos quarenta já as tinha. Só que pintava o cabelo.
O quarto acolhedor, depressa lhes pareceu familiar. Uma cama redonda, com acolchoado vermelho e espelhos, tramaram a fantasia libidinosa dos dois. Belo frontal nú, pênis lindo, com um ovo bonito, daquele que parece um só, ficam juntos e duros, com um períneo bem definido. Ela sentiu prazer em sentí-lo inchar dentro da sua boca. Todo o poder de Denzel Whashington dentro da sua boca. Ele não parava de dizer numa voz terna, que ela era maravilhosa. Ela gemia e dizia: nêgo tu comes bem. Ele sorria, não entendia o sentido de tudo que ela falava.
Parecia uma cena de cinema, a cama girava, uma melodia romântica em inglês. Ela, fêmea em êxtase embaixo dele. Ele, viril, macho da espécie, dentro dela. Beijando-a, que ator para beijar bem! De repente, ela abre os olhos, pois tem mania de fazer amor o tempo todo de olhos fechados, gritando, gemendo, falando obscenidades. Mas Denzel só lhe inspirava ternura. Depois do primeiro orgasmo, sentiu uma imensa paz. E fizeram outra vez, foi quando abriu os olhos e viu todos os homens que já amara ou que a amavam ao redor da cama. Todos nús, quase todos, pegavam no pênis, excitados, enciumados. O ex marido sempre estressado, tinha olhos de quem iria esganá-la, alguns músicos, alguns rústicos, jornalistas e poetas, um deles, branquinho, chorava... a cama girava. Denzel a amava tão maravilhosamente. Talvez, não melhor que alguns ali. Mas eles eram fantasmas irressuscitáveis, tiveram seu momento. Aquele momento, aquela trepada que a deixaria feliz por vários dias, aqueles fantasmas que ainda arrastavam correntes por ela, não estragariam. Fechou os olhos novamente, e pediu que Denzel a comesse por trás. Urrou. Novamente por baixo, abraçada a ele. Gozou novamente, se emocionou, chorou um pouquinho. Havia sido amada por um deus.


sexta-feira, 7 de março de 2008

EU, COMO HOMEM


Texto de Courtney Love

"NÓS GAROTAS MÁS, SOMOS VULGARES. MAS TEMOS POTENCIAL PARA SERMOS TOTALMENTE FINAS. QUANDO VESTIMOS ROUPAS DO OUTRO SEXO POR EXEMPLO".

WARNING: Para garotas boazinhas
Garotas más adoram corpo de caras que tenham QI astrônomico. A maioria das garotas más não é tão libidinosa quanto as garotas boazinhas. Sexo é intriga, não é aparência. É todo construído e tramado na fantasia.
Garotas más amam como leoas e matam quem se meter com sua prole.
Garotas boazinhas roubam o namoradas das más. Garotas más trepam, sim, com os namorados de vocês, mas a gente meio que fica se sentindo uma merda depois. O papel de vocês é ficar rondando os namoradinhos de vocês feito cachorro farejando um pedaço de churrasco. A gente não, o negócio é voar com os caras de vocês para Nova York ou Los Angeles ou Paris e se trancar num quarto de hotel três estrelas por três dias enquanto ele fazem com a gente coisas que não ousariam nunca fazer com vocês.

(da minha caixa de recortes "Edileuza-mão- de- tesoura", tenho recortes de mais de dez anos, esse é antiguinho... não lembro o nome e ano da revista.)

VIRGINIA WOOLF (Profissão para Mulheres)... final



... quero que vocês me imaginem escrevendo um romance em estado de transe. Quero que vocês figurem uma menina sentada com uma caneta na mão, que por minutos, e na verdade por horas, ela nunca molha a tinta. A imagem que me vem a mente quando penso nessa menina é a de um pescador imerso em sonhos à beira de um lago profundo, segurando um caniço sobre a água. Ela estava deixando sua imaginação disparar desenfreada por entre todas as rochas e fendas do mundo que ficam submersas nas profundezas do nosso inconsciente. Agora veio a experiência, a experiência que acredito ser realmente mais comum com as mulheres escritoras que com os homens. A linha correu pelos dedos da menina. Sua imaginação disparou . Buscou as lagoas, as profundezas, os lugares escuros onde cochila o maior peixe. E de repente, um estrondo. Uma explosão. Espumas e confusão. A imaginação havia lançado contra algo duro. A garota foi despertada de seu sonho. Ela estava na verdade no estado de mais aguda aflição. Para falar sem meias-palavras, ela tinha pensado em algo, algo sobre o corpo, sobre as paixões que para ela, como mulher, não seria apropriado dizer. Os homens, sua razão dizia, ficariam chocados. A consciência do que os homens diriam de uma mulher que falasse a verdade sobre suas paixões havia a despertado do estado de inconsciência da artista. Ela não podia mais escrever. O transe tinha acabado. Sua imaginação não podia mais funcionar. Eu acredito que isto seja uma experiência de fato comum com as mulheres escritoras - elas são impelidas pelo extremo convencionalismo do outro sexo. Porque apesar de os homens sensata mente se permitirem grande liberdade nesse aspecto, eu duvido que eles percebam ou possam controlar a extrema severidade com que condenam tal liberdade nas mulheres.
.... Aparentemente, que obstáculos existem mais para uma mulher que para um homem? Mas visto por dentro, penso eu, o caso é muito diferente; ela ainda tem muitos fantasmas com que lutar, muitos preconceitos para superar. Na verdade, creio que ainda passará um longo tempo antes que uma mulher possa sentar para escrever um livro sem encontrar um fantasma para ser assassinado, uma rocha para ser golpeada. E se é assim em literatura, a mais livre de todas as profissões para mulheres, como será nas novas profissões em que vocês estão ingressando agora pela primeira vez?
.... Mesmo quando a trilha está nominalmente aberta - quando não há nada impedindo uma mulher de ser médica, advogada, funcionária pública - há muitos fantasmas e obstáculos, como acredito, avultando seu caminho. Acho que discutí-los e defini-los seja de grande valia e importância; pois somente a partir daí o trabalho pode ser repartido, e as dificuldades superadas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

VIRGINIA WOOLF (Profissão para Mulheres)... 3



Porque, como percebi no momento que coloquei a caneta no papel, você não pode resenhar sequer um romance sem ter uma opinião sua, sem expressar o que você acha ser verdadeiro nas relações humanas, na moral, no sexo. E todas essas questões, de acordo com o Anjo da Casa, não podem ser tocadas livre e abertamente por mulheres; elas devem conciliar, elas devem - para ser direta - mentir, se for preciso para que se saiam bem. Portanto, todas as vezes que eu sentia a sombra de sua asa ou a luz de sua aura radiante sobra a página, eu pegava o pote de tinta e jogava sobre ela. Ela custou a morrer. Sua natureza fictícia era para ela de grande valia. É extremamente mais difícil matar um fantasma que uma realidade. Ela estava sempre deslizando de volta quando eu pensava que tinha liquidado com ela. Embora me gabe de tê-la matado no fim, a luta foi dura, tomou muito tempo que poderia ter sido melhor empregado no aprendizado de gramática grega, ou errando pelo mundo atrás de aventuras. Mas foi uma experiência de verdade; uma experiência que estava prestes a acontecer com todas as escritoras daquele tempo. Matar o Anjo da Casa era parte das tarefas da escritora.
Mas para continuar minha história, o Anjo estava morto. E o que restou então? Vocês poderiam dizer que o que restou foi um objeto simples e comum- uma jovem num quarto com um pote de tinta. Em outras palavras, agora que ela tinha se livrado da falsidade, que a jovem só tinha que ser ela mesma. Ah, mas o que é "ela mesma"? Quer dizer, o que é uma mulher? Eu lhes asseguro que não sei. Não acredito que vocês saibam. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana.

quarta-feira, 5 de março de 2008

VIRGINIA WOOLF (Profissão para Mulheres)... 2


"... Artigos devem falar sobre algo. O meu, pelo que lembro, era sobre o romance de um homem famoso. E enquanto estava escrevendo esta resenha, descobri que se fosse resenhar livros precisaria travar batalhas com um certo fantasma. E o fantasma era uma mulher, e quando vim a conhecê-la melhor eu comecei a chamá-la como a heroína de um famoso poema. The Angel in the house (O anjo da casa) Era ela que acostumava aparecer entre mim e o papel quando eu estava escrevendo resenhas. Era ela que me incomodava e roubava meu tempo e assim me atormentava até que afinal eu a matei. Vocês, que vêm de uma geração mais jovem e mais feliz não devem ter ouvido falar dela - vocês não devem saber o que eu quero dizer com o Anjo da Casa. Eu vou descrevê-la da forma mais suscinta possível. Ela era intensamente compassiva. Era imensamente encantadora. Era profundamente abnegada. Ela dominava todas as difícies artes da vida familiar. Sacrificava-se diariamente. Se havia galinha, ela ficava com o pé; se havia uma corrente de ar, tomava seu lugar nela - resumindo, ela era tão condescendente que nunca tinha uma idéia ou desejo próprio - em vez disso preferia concordar sempre com as idéias e desejos dos outros. Acima de tudo - nem preciso dizer - era pura. A pureza era considerada sua maior beleza - o rubor de suas faces, sua graça maior. Naqueles dias - os últimos da Rainha Vitória - cada casa tinha seu anjo. E quando vim a escrever encontrei com ela bem nas primeiras palavras. A sombra de suas asas caiu sobre a página; e ouvi no quarto o roçar de suas saias. Na mesma hora, isto é, quando peguei a caneta em minha mão para resenhar aquele romance do homem famoso, ela deslizou por trás de mim e sussurrou: "Minha querida, você é uma moça. Você está escrevendo sobre um livro que foi escrito por um homem. Seja complacente, seja terna, adule, use todas as artes e truques de seu sexo. Nunca deixe ninguém supor que você tem uma vontade própria. Antes de tudo, seja pura". E ela como que guiava minha caneta... Eu me voltei contra ela e a agarrei pelo pescoço. Fiz o possível para matá-la. Minha alegação, se fosse levada a julgamento, seria a de que agi em legítima defesa. Se eu não a tivesse matado, ela teria me matado. Ela teria arrancado o coração do meu texto.

domingo, 2 de março de 2008

FEMINI-NU: Virginia Woolf (Profissão para Mulheres)-1

... Virginia Woolf entrou no rio com os bolsos do vestido cheios de pedra. Afogou-se. Era psicótica.

Fragmentos do discurso que leu na National Society for women`s Service em 21 de Janeiro de 1931, para uma platéia de mulheres trabalhadoras.

"Minha profissão é literatura, e nessa profissão há menos experiências de mulheres do que em qualquer outra, com excessão da arte dramática - menos, quero dizer, que são peculiares. Porque a estrada foi aberta muitos anos atrás - por Fanny Burney, Aphra Behn,Harriet Martineau, Jane Austen, George Eliot - e muitas mulheres famosas, e muitas mais desconhecidas e esquecidas, que vieram antes de mim, tornando a trilha suave, e orientando meus passos. Portando, quando vim a escrever, havia poucos obstáculos concretos em meu caminho. Escrever era uma ocupação respeitável e inofensiva. A paz familiar não foi quebrada pelo arranhão da caneta."

"Mas para contar a vocês minha história - e é uma história simples - vocês têm apenas que imaginar a figura de uma garota em um quarto com uma caneta em sua mão. Ela só tinha que mover da esquerda para direita - das dez às uma... Mas para mostrar a vocês o quão pouco mereço ser chamada de profissional, o quão pouco conheço das lutas e dificuldades de tais vidas, tenho que admitir que em vez de empregar aquela soma(cheque do primeiro artigo publicado) em pão e manteiga, aluguel, sapatos e meias, ou contas do açougue, eu saí e comprei um gato - gato bonito, um gato persa, que logo me envolveu em desagradáveis discussões com meus vizinhos."






RÊ BORDOSA

RÊ BORDOSA
TUDO DE DOIDA!

Quem sou eu

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Teresina, Nordeste...Piaui, Brazil