Há uns dez anos passados havia trabalhado com uma senhora, já se aposentando. Nossas conversas eram triviais, nunca conseguia fugir daquela típica conversa hipocondríaca das senhoras beirando aos sessenta, mães e esposas sofridas. Em um mundo sem livros, senão o de receitas deliciosas para fazer aos domingos.
Enrugada e com aspecto doentio que fazia questão de manter, esta era a imagem que guardava dela. Passamos exatamente dez anos sem que nos víssemos, nosso reencontro deu-se em uma festa de amiga comum. Do nada, aproxima-se e me pergunta se já sabia que ela havia se tornado viúva. Respondo que não e tento conformá-la quando a saudade do marido falecido que com certeza seria dolorosa. Então esticando suas rugas, que pareciam menos agora, o penteado bem alinhado, responde dona de si, vitoriosa: fazia seis anos e já estava casada novamente, mostrando com o queixo e um biquinho de sastifação o novo marido algumas mesas à frente. Dá um aceninho para ele. E eu venenosamente, observo que o sujeito é bem mais jovem. Ela afirma que ele tem quarenta e sete. Continuo achando que tem menos. Fuderosa, digo, poderosa... ela se justifica, afirmando que nunca saiu de casa para procurar outro marido. Este a encontrou, veio atrás. Despediu-se acompanhando o marido numa dança, deu-me tchauzinho de: Viu? Importante é ter um homem, tola!