terça-feira, 11 de outubro de 2011

FEIA ADORMECIDA

Há uns dez anos passados havia trabalhado com uma senhora, já se aposentando. Nossas conversas eram triviais, nunca conseguia fugir daquela típica conversa hipocondríaca das senhoras beirando aos sessenta, mães e esposas sofridas. Em um mundo sem livros, senão o de receitas deliciosas para fazer aos domingos.
Enrugada e com aspecto doentio que fazia questão de manter, esta era a imagem que guardava dela. Passamos exatamente dez anos sem  que nos víssemos, nosso reencontro deu-se em uma festa de amiga comum. Do nada, aproxima-se e me pergunta se  já sabia que ela havia se tornado viúva. Respondo que não e tento conformá-la quando a saudade do marido falecido que com certeza seria dolorosa. Então esticando suas rugas, que pareciam menos agora, o penteado bem alinhado, responde dona de si, vitoriosa: fazia seis anos e já estava casada novamente, mostrando com o queixo e um biquinho de sastifação o novo marido algumas mesas à frente. Dá um aceninho para ele. E eu venenosamente, observo que o sujeito é bem mais jovem. Ela afirma que ele tem quarenta e sete. Continuo achando que tem menos. Fuderosa, digo, poderosa... ela se justifica, afirmando que nunca saiu de casa para procurar outro marido. Este a encontrou, veio atrás. Despediu-se acompanhando o marido numa dança, deu-me tchauzinho de: Viu? Importante é ter um homem, tola!

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RÊ BORDOSA

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